segunda-feira, 6 de junho de 2011

Ao telefone




Eu te amo! E o telefone ficou mudo do outro lado. As espiraladas linhas metálicas não pareciam ter suportado tamanha descarga. Nessa hora então as sinapses todas trabalharam como loucas, desenhando milhões e milhões de universos possíveis. Em cada um, uma diferente possibilidade de reação.

Num primeiro, o tiro saiu tão quente pela boca afora que ao chegar ao ouvido dela foi motivo de espocar de um tímpano a outro. Por isso, ora, a incapacidade de responder e o silêncio que nunca mais se poderia quebrar.

Universo paralelo: tanta emoção não caberia em coração alheio e assim sendo a amada amante cai ao chão, estando o seu cavalheiro sem poder lhe acudir, a uma chamada de distância. (Num universo mais ao lado do paralelo, o pobre Romeu vê seu próprio peito, agora vazio do amor maior que ofertara, morrer à míngua. Ficam assim as duas linhas ocupadas pra sempre, intrigando peritos criminais, telefônicos e físicos, quantos!).


No entanto ali estava ele. Depois de rápida passagem por cada janelinha (e em nenhuma vendo pauta diversa da difusa pausa) resolveu tentar de novo. Parecia afinal que aqui no nosso mundinho, tão mais sem graça que os outros, simplesmente não chegara a oração aos ouvidos castos dos Cuidados do nosso peregrino. Resolveu arriscar de novo: -Eu disse “eu te amo”!
É, eu sei-disse ela- mas o que dizer prum “eu te amo!” que não tem resposta?

2 comentários:

Anônimo disse...

o q dizer?

Anônimo disse...

tenso, tenso ...