domingo, 21 de outubro de 2012

Que assim seja




"  Seu hálito quente e secular a tudo cozinha lentamente. Os dias passam diante dos olhos com tal velocidade que até parecem ser um só. A película segue quadro a quadro, um desenho animado em que chovem bigornas, e uma cômica trilha embala estes caricatos personagens: A mulher infiel; o pregador louco (a quem poucos de fato param para ouvir); a  beata calcinada dentro de sua própria fantasia a apertar - lhe o pescoço; o poeta sonhador a filosofar duvidosas esperanças recheadas de puro lirismo e o moço velho já cansado de tudo.


  Ao fundo um coro de calmas vozes, prenhes de insistente anacronismo personifica a ilusão de que as gárgulas ouvem a ladainha persistente de santos engessados de barro e pecado. Um curioso espetáculo de ventriloquismo e retórica. Assim é que cada um interpreta o papel que lhe cabe na pobre novela do cotidiano.


O vento a tudo bole e com tudo brinca. Desgrenha donzelas, devassa as matas, desvirgina tendências e dissemina debutes. Do autor sabe - se apenas de sua atuação, que afinal o resto pouco importa. "


                                                            Pelos seculos, seculorum. 

terça-feira, 16 de outubro de 2012

Astronautas no Planeta Mármore


sábado, 13 de outubro de 2012

Tempos modernos


Confusion that never stops / closing wals and ticking clocks


  Sobe o fio de fumaça que é denúncia daquilo que esteve, não mais. Leve como o vento que sopra e mais ainda, como as nebulosas marcadas contra a estática tela escura. Longe passam secos automóveis como ondas, feito doppler, distantes que estão da praia, enquanto aqui nessa selva em particular a chuva cai desavisada e cheia de preguiça.

   Tudo parece ignorar a pressa que é sinal de nosso tempo. Não se respira mais como antes. Sobra  o que é cinza, final anunciado de tanta combustão-trabalho e tal. Relva úmida, leito de orvalho, leite morno. Sentido pro que se sente é busca vã. Filosofia, que seja material de modelar a massa; poesia, matéria que se viva. Afinal, fazer poesia é enxergar através das palavras.


Hush. No Rush.

terça-feira, 9 de outubro de 2012

Retorno ao Eterno.


Norway

A Origem.

Angústia e raiva, resume-se essa explosão. A sensação de não estar ajustado, de ter raiva por que algo está bloqueando o seu caminho, algo que não deseja ou não quer fazer. Algo seu - onde o inferno sempre é o outro - ou dos outros? Como diria aquele francês que um dia defendera um grande monobloco narrativo e agora já extinto...

Suscitar o orgulho, dar espaço para a vaidade e, como o de costume, cair novamente no chão, pois não saber como lidar com a explosão o cega, afasta quem o ama - caso o amor não sofra do Mal de Cristo.

Nesse circuito, novamente, vem à tona os alcalóides- a fuga, os amigos descartáveis, giletes afiadas, sangue derramado. 

Vaidade, fuga, vaidade.

Não há nada mais pecaminoso do que esconder o choro, não encontrar sinônimos que deixe o texto mais belo e erudito: sentir-se abaixo do que já está abaixo. É sentir féu no prazer, é ver beleza na auto punição.

Cicatrizes, vergonha, vazio.

Outros ares, ora confusos, ora civilizados, com um clima frio - Norsk -, ruas pavimentadas.. Projeto de modernidade, como fora concebido naquele passado positivista. 

Uma década aguardando o gosto da vitória. Só você celebra. Objetivo alcançado, mas não satisfeito.

sábado, 6 de outubro de 2012

Sufrágio

O teu sorriso preso na garganta da paz

É chegada a hora e tens de decidir dentre as centenas. 501?
Porém existem dois, especificamente, que te saltam os olhos:
Um é um indivíduo mimético da vida comum - a preferência ecumênica - regido por uma hierarquia educacional, carregado de jóias e presentes - que ele trouxe de Paris numa viagem a negócios - prenhe de idéias fátuas. Um sujeito encômio para as mães, avós e sogras. O mais do mesmo em sua essência. Te promete o inimaginável a fim de granjear o teu voto.
O outro, neurastênico, famigerado por seu passado, de pretensões mais parcas, mas cheias de paixão pela mudança é o que mais condiz com os ideais que possuis. Ganha no corpo-a-corpo - isso tu sentes - nas retóricas; seus discursos inflamados são a assunção das células revolucionárias - todo coração - que te tomam ser humano. Todavia, julga-se menor que o outro por não possuir o capital necessário para investir em sua campanha de conquistar o teu voto e ser eleito.
Resilientes os dois, porém de opostas formas. Vêm para soçobrar tua calmaria, te fazer pensar sobre futuro, querer tender um lado da balança.
E a tua indecisão é um jogo político onde a tua história vai determinar quem escolherás. Por mais que suponhas que a escolha seja tua, nós já sabemos quem vencerá, não é mesmo, meu amor?

A memória eidética é o pior inimigo

terça-feira, 2 de outubro de 2012

Meses

'Coração é terra de quem pisa.' Está na boca querendo reforma agrária.

Pareço indômito, vestido pelo tempo. Minha barba configura uma fisionomia quase filosófica, idônea; reprodução de velhos ídolos e suas vidas consumidas na compreensão das mesmas.
Parece que fui visto pelo olho fundo da tempestade e que agora posso remar às cegas sob a opulência cinzenta de um céu que esconde qualquer norte - sinto-me preso as essas intempéries que recentemente varreram a cidade, como se soubessem da necessidade.
Meu corpo tem a vivência da finitude, infinita em ignorância.
Sinto como pedra a tua história, contada na solidão, em meu estômago já habituado com a gastrite. Revira feito remédio em seu efeito. Alcança toda a minha sina como uma dose de veneno. Entorpece-me pelo vício da tua íris, o sistema nervoso é sua orquestra - ressalvo o vício de qualquer teor pejorativo.
Foi de tanto ouvir você bater o telefone enraivecida - não vejo simbologia maior.
Hoje exponhe-se os dentes para esconder o que traz a língua. E a felicidade vai sendo qualquer coisa que caiba nas mãos cheias de moedas - o livre mercado agradece!
A roupa, troco e fica velha, tão quanto beijos de amor. Mas o teu todo é perene, e nostálgico tal qual biscoitos com café.

Aquele solo, de trompete e trombone, no final de 'Vermelho' do Camelo com o passo novo que eu aprendi.