quarta-feira, 23 de agosto de 2017

Esperança Cética (Momentum)

*Republicado*






 Nossas preocupações se materializaram. Medo, dúvida, ignorância e rancor tomam de assalto os corações e mentes. Lembro que há uns meses, apreensivos, discorríamos cenário por cenário, apenas para assistirmos hoje, estupefatos, o desvelar da caixa de Pandora. Da besta fera então sentia -se o hálito podre, apenas.


 Tudo que prevíamos estava errado; a realidade é uma maçante e dura barra de ferro, removendo todos nossos dentes a um golpe (e sem anestesia). Então tínhamos a impressão que os homens de bem se pareavam em honrada comunhão, baluartes da moral e do bem servir ao reino, grassando as praças e jardins com suas armaduras douradas. Os domingos nunca foram tão belos, as famílias nunca antes tão plenas. Hoje as máscaras caíram, e vemos duendes, anões, punguistas e impostores ameaçando a paz e a ordem em troca de alguns trocados.


 Hoje os velhos não mais estão seguros em suas casas; o que impede de serem acossados como animais, ao romper da manhã? nem bem o galos incitam a mais uma jornada, os capitães do mato atiçam seus cães, sob aplausos ignaros da caravana cretina. Pois que é preciso trazer “a mudança”, alternância entre o velho e o novo, tal qual pêndulo invisível levando – nos adiante (para pouco depois nos devolver ao nosso devido lugar). Nisso Todos concordam, o que em si já serviria como sinal de alerta. Toda unanimidade é burra, e não sou eu quem o diz.



          
                                                                   *

  O alvoroço vem de cima. Criminosa queimada - fogueira de vaidades- e poderia soar como um grito de Prometeu revoltoso, mas não passa mesmo é de pura vilania. A agressão é urdida por travestidos tiranos trajando togas ou ternos. Em todas as cores, espectros (do azul ao vermelho) posam de heróis, por longe que passem disso. Nobres apenas de título, tais senhores, pastores, salivam de avidez e cobiça para retomar o rebanho o qual lhes foi tirado. Amalgamados monstros com cara de santos, mãos de rapina, garras de corvo, cauda de pavão.


 Ouço ranger de dentes, passos no forro. Rezo a um Deus que dizem ser um meu patrício; nunca o vi, nunca consigo conversei. Está morto, é o que dizem. ainda assim, desconfiado, rezo. Rezo e espero pelo pior. É um modo pessimista de ver as coisas, todavia, racional. É esse o meu método, e você pode chama – lo esperança cética.  Não faz diferença, pois só o que vejo e sinto é o que importa. O que é, não o que se fala. Eis que o que vejo não são mudanças; são variações de um mesmo tema. Um cabo de guerra onde os mais fracos relutam em se ajudar, mal acostumados em sua tenra subserviência... 

 Lamentos ocorrem alhures e algures, sinceros, amiúde. Sim, existe uma crise. Uma crise de honestidade. Falta nos sermos honestos e admitir que enquanto não formos um pelo outro, seremos, para sempre, um contra o outro.

*(Postado originalmente em esascetica.blogspot.com.br a 20/03/16)