terça-feira, 30 de agosto de 2011

No princípio, agora e sempre

" Lembre - se: Mesmo Deus tem senso de humor. Veja só o Ornitorrinco." Kevin Smith, cineasta



Jardim do Éden. Satisfeito com sua própria criação, Javé decide que para manter sempre impecável toda a beleza e esplendor recém criados, deveria Ele designar guardiões, gestores de toda fauna e flora que ali descansavam em berço esplêndido.

Viu pois o Senhor das Esferas as abelhas com seu zumbir agradável... Tão diligentes e felizes em ver seu trabalho ser cumprido, tão cientes e orgulhosas em poder colaborar com o bom-funcionar de suas colméias!

Mais uma olhada e percebe o Alfa e o Ômega as formiguinhas a carregar coisas de lá para cá, sempre alertas e dispostas, sem deixar um só segundo de dar seu melhor em prol da coletividade. Mas não. Ainda não era isso...

É quando percebe, extasiado, todo o potencial escondido de uma raça! Tudo aquilo que de mais absoluto, arauto maior de sua obra, tinha a oferecer o povo seu eleito. Num canto isolado do jardim, deleitando – se só, está um macaco pelado, a se masturbar feliz e despreocupado, sem saber de toda aventura que dali por diante caberia a cada filho seu e de sua subversiva Eva.

E o resto é história, meus amigos.

sábado, 27 de agosto de 2011

Onírico


Quando acordei, levei um susto. Eu estava de bruços e tive um pesadelo. Daqueles bem soturnos que nos fazem transpirar suor e receio de que aquilo seja real.
No instante, entre o fatal e a ilusão (aquele em que você tenta entender se o vivido foi verdade ou não), eu a vi ao meu lado. Tão plácida em teu sono, um sorriso leve marcando teu rosto. Devia ser um sonho bom.
Mas, ao meu remexer na cama, na entrelinha de quem reclama que o outro não acordara, ela abre os olhos, como quem abre as janelas em um dia ensolarado:

Que foi? ela me pergunta

Pesadelo, dos terríveis!

Com o que sonhara?

Noites em fogo, um beijo, tudo de novo!

E eu dormia de bruços!

Que estranho! ela diz. Nunca te vi ter pesadelos de bruços!

Pois é, nem eu!

Me abrace e voltemos a dormir, meu bem!

Não consigo! Estou afim de sair daqui e comer sem faca, não pentear os cabelos, vestir qualquer roupa e largar um foda-se pra tudo o que você disser!

Mas você não me ama? indaga a minha amada

Amo; e é por isso mesmo que eu quero ir embora!

Você lembra do livro Édipo Rei? subitamente ela me lança

Lembro, porquê?

Não, nada. É que me veio à cabeça o fado de Édipo, os enigmas decifrados da esfinge e tudo que o acarretou por culpa das atitudes de seu pai, o rei de Tebas.

Pobre Édipo, furou seus próprios olhos ao descobrir o que tinha feito. Maldito destino. Eu lembro sim!

Pois é, maldito destino!

Leve um casaco, pois está frio para lá das portas!

É, acho que vou levar mesmo. Adeus então meu amor!

Adeus!

Caminho em direção à porta. Abro-a e um clarão me põe de volta na cama, naquele mesmo instante; entre o fatal e a ilusão:

O que foi? ela me pergunta

Pesadelo. Terrível. E eu dormia de bruços!

Que estranho, você nunca teve pesadelos de bruços...


quinta-feira, 25 de agosto de 2011

2 adolescentes

Dois adolescentes vívidos soltam uma mesma faísca, não lhes falta nada... somente a brasa daquele impacto iminente, saindo do colapso astral no mesmo momento, apresento você a você mesmo, com lábios que a muito não toca a muito não bebe, sedento daquilo que um dia te fez feliz, soa o tempo com artifícios mil para satisfazer-te, segue o tempo no curso do melhor vinho, vem me ver agora!... Vem te ver agora, chega desse tempo de ostracismo que te fez crescer, digno de aprendizagem; voa naquela frequência só nossa..., ouça aquela música, me parece com você, viva aquele dia que me perdi, no trago lento direto na sua pele branca... pausa pela contramão da distancia, pois ainda esta perto. Aquilo tudo que sentiu, veste a nossa melhor roupa agora.

terça-feira, 23 de agosto de 2011

Séu Cifrão

Pasme com a criança na beira da estrada à frente dum caminho de lágrimas no asfalto quente, com aquele jovem rechaçado com dores de dente e com uma senhora que insiste em dizer ser amada.
Pasme com a vida descrita pela nossa história mal-dita e com a coca-cola na geladeira, ao lado dos verbos do seu léxico e da margarina.
É que nessa guia miserável, vamos nos fazendo de ensejos, nos esbarrando em carinhos feitos por mães modernas, lacônicas, e correndo atrás de uma influência paterna escondida por detrás de TVs e automóveis.
Sem heróis para sustentarem hipóteses, teses ou antíteses; sem foz para desaguar nosso mar, afogamos identidades, que se lêem estandartes, em referências absurdamente gastas pelos nossos próprios conceitos morais.
Que numa prece, então, rogue-mos nos altares da rotina, para um deus lobista, inexorável, e seus três poderes - moeda, mercado e o capital - por sonhos mais caros e muita proteção fiscal.

domingo, 21 de agosto de 2011

JUGGLAR


Agarre - te com todas as forças, Náufrago - paraquedista
Singular
A barca vem jogando, e o teu sangue a coalhar
A praia é quente e boa...
Mas tu careces de mais, tua carência é de mar
A expectativa é a chama, o "querer voliçar"
Seu infinito profano
Torna e retorna a voar, a sentir
O pulsar
E querer ser, querer fazer
Mas não ter
Ah, o simples fato de que não pode ser, Deus Como te excita, o quanto te dá prazer!
Mas é sempre gostoso o doer.
Teu gozar é naufrágio
E viver será sempre
Teu perpétuo adolescer

quinta-feira, 18 de agosto de 2011

(A)manhã

Quero viver por mais um dia. Só. Um dia está bom.
Pois, no ontem, abri a porta dos tantos mundos e vivi, de fato, algumas horas, na consequência de "umamanhã".
Doce manhã; véu cândido que cobria nossa dança ungida sob os lençóis, lavrando o infrutífero, trazendo a chama posto que é coração.
Um dia. Se eu soubesse o que viveria, viveria só para saber.
E que por este dia desejoso, a mais, me venha, aos goles, aquilo tudo de ontem. Onde pude beber de todo seu ser nesse resumo.
Sou o notívago que desiste da noite para te chamar no portão, gritar teu nome santo e sentir na boca a canção, quando acende a luz e tua silhueta me é clara, na aurora conjunta.
Ah! Por dias assim, me vejo contando tudo para o velho da praça, jogando bola com as crianças na rua, correndo às gargalhadas sem motivo algum; talvez, motivo, por uma vontade velada para chegar logo e fazer-me de todo a possibilidade, de saber, se amanhã também será.
Mais um dia. Visto que foi lá que deixei meus óculos e minha escova de dentes.


quarta-feira, 17 de agosto de 2011

O Sustentável Peso do Ser

Olha só esse cara que miro no espelho
Ostentando o erro crasso do amor fati
Sem o sabor do sofrimento, açodado
Amando o destino seja como for.
Sou eu mesmo quem vejo alí?
Ou apenas um retrato de meus pais
Que por suas vezes, cópias de seus pais?
Cópia da cópia da cópia da cópia...
De um universo que me copia
Com o peso, na ausência da leveza
A não-leveza que me toma razoável
A não-liberdade que me prende
Na finitude perante o infinito
Na compaixão, no eterno retorno
Porque eu sou o louco que volta
Para fazer tudo de novo
E ter ver nua com esse chapéu-coco

Amigos

Pode falar da pirraça, de tudo que sente, pode falar da desgraça e da vida que entende, pode falar dos caminhos e transtornos da gente, pode reverberar sobre o tumulto no futuro inconsistente, pode dizer sobre coisas que jamais terceiros vão saber ou entender, como num tumulo consciente, pode agredir verbalmente sem medo do desgaste eminente, pode estar num estado puro, imoral ou transcendente; pode vibrar, chorar e sorrir livremente.
Sem condicionais para sobreviver, sem meios para entreter, você, mesmo assim, vai estar ali, fixo sentimento, não vai passar esse tal abstratismo, pois concreto... sempre será; divino e santo, maldito ou fraco, cerveja ou água, livros ou rock; diga aos amigos... estarei sempre aí.

terça-feira, 16 de agosto de 2011

LAVAGEM

O ser humano(massa) pode ser encontrado no lixo, mas dele não pertencerá, pois o lixo se reciclará em sua grande parte, o ser humano não.

sábado, 13 de agosto de 2011

O Macróbio

Pobre de mim
Correndo tanto tempo
No afã do ocaso das glórias
De alma vendida, gosto ruim na boca
Batendo com a cara na porta do inferno
Fazendo de retalhos asas de será(fim)

Pobre de mim
Olhando por tanto tempo
Para o Sol, para a Lua, estrelas
As folhas secas decaindo das árvores
As palmas no ar que fazem dos pássaros
Agentes de uma promissora liberdade

Sonho de mim
Que me arranca toda a noite
Uma flor de cada vez, hora a hora
Me alcunhando, acre(mente), senil
E à revelia, no remete alvo
Taumaturgos blasfemando o jardim

Sonho de mim
Vem desligar essa televisão
E tentar fazer de poesia, redenção
Para dividir logo, tudo pra todo
Puxar para perto deste peito
No abraço, plenitude, eternidade

sexta-feira, 12 de agosto de 2011

AMADO e amante


Amada você é a única a não saber, distante e tão perto de você abre-se um clarão, a insignificância de quaisquer que seja o conceito certo do que está amando, doce vislumbre daquele ar rarefeito de sentimentos sem definição, causando maciça dor para quem ama, dá barbante para salvar e pouco milho para viver, no entanto continuas a refazer suas teses e preparar o seu próprio achocolatado, estilhaçando sensações sem perceber, inevitavelmente incurável posição, fogo no olho baixo e incólume, uma porta te faz se sentir melhor, é verdade, qual sentimento pode ser deixado pra trás sem condições de voar; aquele que não descobre a tempo a distorção do sentimento cedido e sentimento doado se perde na merda e no espaço contando com o perfaz indubitável da amada que consta ser insignificante ao nascimento desconjurado de doação, por isso amante, aborte essa ideia de voar ou morra por dentro.

domingo, 7 de agosto de 2011

Quem me traga fé



"O poeta cético é um subversivo em potencial: De dia filosofa com um martelo para a noite se deitar com os peixes."

sexta-feira, 5 de agosto de 2011

BIZARRO TEMPO

Sei da felicidade embutida em sorrisos falsos, toda a simulada convivência, ri pra quem? feliz por quem? Toda as respostas embutidas nessa falsa vertente, no seu esteio de produção, na sua malfadada solução... podia até premeditar essa derradeira febre, vislumbrar a decadência, no entanto, como um marinheiro de primeira viagem, procurei não me meter muito no curso de uma história, com naturalidade... se esquivar das correntezas; contudo, tolice e mandiocada andam de mãos dadas e a mais célebre frase , o mais fantástico som, vão esvaindo-se soando sem razão e sem razão continua sua vida a procura de alguém que não lhe maltrata o coração.