quarta-feira, 26 de dezembro de 2012

O alfabeto de Vênus: Linhas gerais


Tracei uma linha. Uma reta ligando dois pontos na tela negra da noite escura. Não satisfeito fiz mais: outra, e então outra e, por fim, lia teu nome, silencioso e doce ali onde ninguém mais te poderia adivinhar. Minha onde eu e apenas eu, egoísta e solitário como sempre, te posso encontrar.


Sei que se apagará um dia, tão logo não possas mais mirar a luz que vem do frio distante e infinito que te dou. Até lá poderás divisar o que é teu, pois que para ti hei riscado, com meu olhar perdido e a ternura imensa e insondável do que agora sinto. Tão líquido e tão certo quanto o breu do espaço e tão teu como meu pensamento apenas. Preste atenção nessas linhas e há de me encontrar, noite após noite.


Minha angústia reside em saber que nada nem ninguém te poderá ensinar meu alfabeto;ainda que a ti entregue, te dando minha alma e a poesia minha sei que tomarás pouco menos do que a ti te toca. Talvez nem isso sequer. Mas pouco importa. Já pela manhã eu mesmo não devo mais encontrá - la, ofuscada na luz branca do cotidiano. Não que lá não esteja. Apenas não se pode percebe - la descalvada e bela como fora noite passada.



segunda-feira, 17 de dezembro de 2012

Dedimar, Feliz natal!




Faça o dobro, faça de novo, mais uma vez, vomite, coma o vomito, almoce de novo, jante outra vez, custe, seja custoso, novamente, pule, corra, atingindo o melhor do batimento cardíaco. Chore e grite cinco mil vezes.
Ele é feliz, todos sabem disso; sua mãe, vó e Tia, todos sabem que sim, sorriso encantador... para isso, o garoto realiza tudo que faz em cinco mil vezes sem parar para pensar; o mesmo é orador e engenheiro, faz tudo em alto e bom som, bom volume musical, encorpado, muita energia, redobrada atenção, gesticula, nova atenção, mastigação demorada, retorna, apresentando-se, progredindo mil vezes, não esta bom, sem satisfação, irrequieto, chafurde ia-se em ralos sujos em busca de diversão.
Dona Dedimar, avó do sujeito, chama-o para a ceia, após um ano sem rever o peste envelhecido, carinhosamente, homenageia-o com palavras doces e meigas, de uma senhorinha vovozinha fofinha, dedicada ao lar. Pois é natal, todos estão à mesa, todos querendo refletir, todos querendo ajudar e todos seguindo bons valores.
…Eu sei, tia, é tudo muito repetido, essas coisas são assim, não vejo graça nisso. Vire-se e vire-se várias vezes, sempre com esse vocabulário sem boas nuances, não vejo ligação entre essas palavras.
Todos na rua são assim, é por isso que sou infeliz no natal, não dou valor pra essas vidas, para os nossos sonhos irrealizáveis, essa data não me torna capaz de ser feliz, portanto, obrigado pelas meias e palavras.

domingo, 16 de dezembro de 2012

Compêndio

Com o perdão da repetição...

No início, assim sujeito, se vê a criatura. Matriz oca a se originar o conceito. A palavra engessa as idéias, limita-se a condição da imagem ao que o nome carrega. E você vai sendo inominável - inefável - pela fluidez de seus movimentos, pela vontade dos teus (an)seios, dando sinal na estrada das paixões. O hedonismo é carona no manifesto contra as amarras. É tudo que somente o teu corpo pode explicar. Pintaram um afresco teu no muro dos portentos.
Teus amantes, todos traídos pela internalização do teu pai - talvez Jung ou Freud tenham uma teoria melhor - seja mesmo ele cristo ou diacho, persignam-se em lágrimas salgadas e em soluços litúrgicos devotam ao teu templo nu.
Entretanto o Tempo, deus impassível e verdade, devorador da tua imortalidade define o espaço - do tamanho de um quarto onde divides o ar com teus troféus, arquejando sem efeito  - deformando tudo, outrossim, o teu sopro ontológico.
E na origem a imagem zomba do conceito mesmo sem a idéia da própria conclusão.
Não obstante, a letra sempre me puxa o signo quando apelo à escrita.
A tua diferença sustenta qualquer semelhança. E como pássaros que explodem ao chocarem-se com edifícios que antes não estavam alí, você reitera a minha existência.
E o fim é nada mais que o teu nome.


sábado, 15 de dezembro de 2012

Ho Ho Ho... (Ou 25 motivos pra odiar o Natal)


Se tem alguém que odeia o Natal, esse cara sou eu. Entre os dias 24 e 25 uma aura de magia e milagre parece tomar o país inteiro, que se torna uma grande Cachoeiro (Tradicionalismo familiar, calor intenso, arrotação de farofa e Roberto Carlos a granel). Pode ser que eu seja naturalmente velho e emburrado, mas.... não sei. Simplesmente detestável. Então vamos lá, com os nossos 25 motivos para odiar o Natal:

-A velha piada do "É pavê? Ou é pa comê?"

-Presentes compulsórios


-Abraços (melosos e melados de suor) compulsórios

-Sorrisos compulsórios

-Parentes que nunca participam da sua vida, mas que uma vez por ano vem trazer a solução de todos os seus problemas e um pacote brega de sabonete da Natura

-Hipocrisia (resume quase que tudo)

-Calor intenso

-Amigo x (e toda a intensa rasgação de seda que vem no bojo)

-Muito calor

-Papai Noel (Velho batuta)

-Crianças macacas correndo como se o mundo fosse acabar (incluindo aquele amiguinho do primo do Luquinhas que veio ninguém sabe de onde)

-Já citei o calor? e o calendário gregoriano? 

-Os ursinhos da coca - cola

-Pisca - pisca musical 

-Árvore de Natal (usualmente cheirando a guardado)

-Sentimentalismo barato

-Subversão dos reais valores cristãos (exaltação a) 

-Esssssstomazil

-Acidentes nas estradas

-Especiais de fim de ano (Tinha um da Xuxa com criancinhas comendo lixo que me assusta ainda hoje)

-Decoração de Shopping (que fica ainda mais lotado nessa época)

-Caixinhas de Natal

-"Promoções" de fim de ano (que adoram sugar seu 13°)

-"Espírito Natalino"

- E claro, jamais poderia deixar de citar o último mas não menos importante - O meu amigo (Vaaamos aplaudir) : 









sábado, 8 de dezembro de 2012

Memórias mascadas de uma mulher que já fui




Qualquer pedaço seu hoje me deixaria tão feliz...

Qualquer fio, qualquer migalha. Hoje tudo o que toco ou vejo tem um pouco de você, mas nem sei dizer se depois de todo esse tempo isso tudo faz sequer algum sentido. Mas as páginas riscadas, canções outrora tão significativas, nossos lugares especiais, tudo já foi tão diferente do que vejo andando nessas ruas tão molhadas de suor!

Sou outro de você. Sempre e a cada instante, já que o rio nunca para, por mais que aparente não sair do lugar. Meu batom, gasto até não mais poder, após todos esses anos, conserva ainda o seu sabor. Tua gravata ficou esquecida, largada ao lado duma meia puída desde aquele frio janeiro em que me vi só.

Tudo passou, estou bem hoje. Mas bem queria não estar. Hoje só posso pensar que todo o prazer desse mundo me traria qualquer um fio, migalha, pedaço. Qualquer coisa.
Sua.


quarta-feira, 5 de dezembro de 2012

Rocket Science

peebleslab.com

Um cigarro que tentei fumar ficou aceso no parapeito da varanda. Daqui de onde moro é tão alto que posso ver as linhas vermelhas e amarelas que os automóveis encadeiam à noite, contornando a ilha que nenhum homem é por si só. John Donne e sua parte nesse todo imortaliza a necessidade do homem pelo homem. E eu te necessito, ó estrela de grandeza não constatada, de brilho invisível. O rosto é contraído pelo fulgor da tua passagem. Queria eu um coração de um suíno, pois além da semelhança e da possibilidade, ver-te-ia não mais que um algoz que da minha carne faz a tua refeição.
O amor perde a vontade em sua divisão. O definido é indefinido, pronominalmente um qualquer.
Conjeturo, às vezes, como uma cena de um filme, onde em plano sequência nosso diálogo é visto da perspectiva do resto do mundo numa praça - meros coadjuvantes do nosso momento - e eu digo que voltei porque vi naquela fotografia a lhanura do teu olhar à quem estava por trás da câmera no instante da captura. E como alguém que muito longe de casa xinga em sua língua-mãe de saudade, te beijo mesmo antes do close final. E os créditos passam despercebidos.
Deliberadamente deixo o cigarro cair da varanda, pois eu não fumo e a fumaça já me incomodava. Mas é que eu sempre achei fascinante o jeito como você fuma os teus.

Atenção! Texto em itálico. Segurem-se; inclinação piegas à vista:
Talvez a ciência dos foguetes seja menos complexa que a do teu amar.

ESPAÇO JOHNNY D.: OSCAR NIEMEYER. IN MEMORIAN