segunda-feira, 30 de abril de 2012

Regionalismos endêmicos



Ver de longe a tua silhueta e saber que você não estã lá é uma dor gostosa e até engraçada. Os loucos dançam sozinhos no meio da rua. Eu te encontro, de novo e outra vez, noutros lábios e delícias que não te pertencem. É assim, sempre sobre você, passando por cima.

Sobreposições em desnível, como velhos ladrilhos de cidade velha: mova uma pedra, duas, sete pedras e tudo ainda estará lá. Como da primeira vez, como aquele antigo bar que foi nosso e que hoje nos é negado. Porque não é mais da gente. Não há mais a gente, sabe?

Sobram apenas os loucos que dançam sozinhos e falam de um amor que desconhecem. Cantam canções que não lhes pertencem, fora de hora, "brincando de papai e mamãe que se amavam livremente entre as flores". Esqueceram envergonhados como é "brincar de casinha" e embora desfrutem de leito sempre quentinho, estão constantemente sozinhos ao nascer do sol. Pior: sem Café da manhã.



        *          *          * 


Daí olho pro lado e te reconheço mais uma vez. Sinto que vai começar tudo de novo.
Mas talvez não. Essa pode ser só mais uma poesia sobre a gente, caso (ou nesse caso, casos - a cada vez um novo) muito específico. Mas talvez não. Talvez seja só mais uma poesia qualquer, de um poeta qualquer  esquecido num canto  de uma cidade velha qualquer.

  

domingo, 22 de abril de 2012

Soneto do ocaso

  













Teu batom já borrado
Tuas presas rasgadas
Como doces pegadas
No meu torso desnudo

Olho ainda cansado
Os espólios da guerra
Minha cara amassada
 E o teu hálito sujo

Tal qual Pedro e seu pé
Preto o peito que dou
O que posso e o que quer

Mal o galo cantou
Nem saiu o café
Alvorada chegou

segunda-feira, 16 de abril de 2012

Samba de (Ama)dor

Assim, como do nada, tal Terpsícore, fez-se a figura dançatriz. (Re)trato, beijo pregado na cruz do meu movimento. Essência de um querer perdido em avenidas profanas.
Presente: alcunha da vida arredia que faz do fogo primazia. Tentativa do pé do-ente.
É cordão que amarra a mim. Nêga que tira uma nesga do coração quando samba assim.
Deísmo; criadora de um universo que me deixou para tratar, sem canto ou tamborim, no impulso que pulsa o batuque do meu penar.
Me faça, então, verbo, ó divina inspiração! que no sapato, cadenciado pelos acordes da viola e a invariável do teu olhar, eu vou.
E por fim, me desperte num compasso, pois te ver foi um samba tão comprido que precisei de muitas noites para sambar.


sábado, 14 de abril de 2012

Corra e pule repetidas vezes.




Tudo que amar não pensas, quando não em dinheiro, esbarra em sua falta de jogo.   Existe estrutura simbólica mas não mais resiste essência que faz deste sangue pueril, bonito, viver e criar, múltiplas possibilidades de ascensão com exânime amor em peito, perto à boca suja de alcatrão é deveras devasso, pobre meio, árido bem estar.
Ao simétrico momento em que sigo este critério; ler, ouvir, incorporar o que almeja ser o melhor, não rebate esse amargor, gotejante brotar de concreto cimentado, quanto a ilusão, brincarei de beijar-te.
Me casarei com minhas coisas, depois de assistir Fight Club.
Pouco desse amor, pois sim, perdido aforismos, não contam com pragmatismos, vivem de surpresas vil, esquecido no asfalto.

Se todo animal inspira ternura, o que houve, então, com os homens?
Guimarães Rosa