domingo, 28 de julho de 2013

Forks and Knives


"Tire o seu sorriso do caminho...


- "Meu amor, tenho planos para nós. O que há de vir é nosso. Nada pode nos desviar. Quero contigo casa, filhos, prestações. Quero dividir os problemas, as dores, somar as curas em sorrisos. Te quero perene, meu monarca de fábulas infantis, nessa piada travestida de vida que insiste em nos chamar de posse." Foram exatemente estas as tuas palavras, lembras?

- Lembro. Mas não acredito mais nesse sonho médio que desde a Roma Antiga fundamenta essa história. O futuro vai sendo brinquedo do sistema vigente, mantenedor de antolhos direcionados a propriedade seja ela matéria, seja ela essência. E a capitalização do amor, leia-se casamento, via de regra afagada por interesses eclesiásticos, receita com todos os itens a desvalorização do mesmo num salutar de cofres alheios. Quer-se o bem, meu bem, se é que você me entende.

- Mas que mal há nisso, construir o estereótipo desse status quo, já que não há mais nada além da carne? A revolução é a própria contrarrevolução moldada para ludibriar a dúvida!

- "A tradição é a ilusão da permanência.", Woody Allen foi quem disse.

(...)

- Lembras também que no início do nosso relacionamento me dizias que contavas as vezes que precisarias fazer as unhas, escovar os dentes, abrir as janelas... quantos banhos tomarias, quantos filmes assistirias até poder me ver novamente? "Este é o último pentear de cabelos até o encontro", era a frase que persistia na frente do teu espelho!

- É, dias que pareciam anos para mim. Mas a distância era o que nos mantinha sãos.


- Eu sei que insistes em ver essa letra escarlate em minha testa toda vez que nos encontramos. O que fiz foi por pura insegurança, eu sei, e nada define melhor (ou pior) mea culpa que isto!

- "As nossas únicas verdades são as nossas dores". Isso é Alphonse de Lamartine ratificando a minha existência.

- Crias na anodinia da nossa narrativa, não é?

- Sim. Eu cria em ti.

- Nosso desamor já fez aniversário, viste?

- Vi.

- Foi tudo tão célere e silente que nem percebi o tempo passar!

- Para mim nada foi tão custoso e gritante quanto.

- Tens razão, vai ver foi isso, demorei, deveras, para entender. Não te mostrei a minha nova tatuagem!

- O que é?

- "Se não a realidade que me cospe esse agora
   Sê então o fantasma que me assombra as horas". O teu poema que me escreveste!

- És louco.

- Eu sei!

- Bem, já peguei tudo, vou embora.

- Calma! Mas e o conjunto de talheres de prata que ganhamos de presente em nosso casamento?

- Enfie-os no cu. Adeus.


... que eu quero passar com a minha dor."



segunda-feira, 1 de julho de 2013

Parada pela rua.





 - Vem você e diz que essas coisas não mudaram, diz que essas pessoas são reféns dos mesmos futuros; incerto, paulatino e privado. Chegará o homem novo, o status quo da verdade, não, não, não.. este já morreu, este está ao lado de fora da forma desses passos. Tire o fio de cabelo do olho, deste olho, veja. Pessoas pularam as mesmas cercas, até aqui. Apenas se é jovem por aparência, deixada a embriaguez, longe de vingar perfeição. Pálido coração, tomado por mesmos instintos, graves silhuetas, nas tórridas paradas no tempo. Outra cura, pra fazer dócil, pra negar-se. Público, notório, veja acesa ameaça.
Entre mesas e cadeiras fortes, outra celeuma do universo. Desvio aceito.
- Boa sorte.
- Bom Foda-se.

A vida é arte do encontro, embora haja tanto desencontro pela vida.
Vinicius de Morais