Ver de longe a tua silhueta e saber que você não estã lá é uma dor gostosa e até engraçada. Os loucos dançam sozinhos no meio da rua. Eu te encontro, de novo e outra vez, noutros lábios e delícias que não te pertencem. É assim, sempre sobre você, passando por cima.
Sobreposições em desnível, como velhos ladrilhos de cidade velha: mova uma pedra, duas, sete pedras e tudo ainda estará lá. Como da primeira vez, como aquele antigo bar que foi nosso e que hoje nos é negado. Porque não é mais da gente. Não há mais a gente, sabe?
Sobram apenas os loucos que dançam sozinhos e falam de um amor que desconhecem. Cantam canções que não lhes pertencem, fora de hora, "brincando de papai e mamãe que se amavam livremente entre as flores". Esqueceram envergonhados como é "brincar de casinha" e embora desfrutem de leito sempre quentinho, estão constantemente sozinhos ao nascer do sol. Pior: sem Café da manhã.
* * *
Daí olho pro lado e te reconheço mais uma vez. Sinto que vai começar tudo de novo.
Mas talvez não. Essa pode ser só mais uma poesia sobre a gente, caso (ou nesse caso, casos - a cada vez um novo) muito específico. Mas talvez não. Talvez seja só mais uma poesia qualquer, de um poeta qualquer esquecido num canto de uma cidade velha qualquer.