domingo, 23 de setembro de 2012

Carta aberta a minha Amada



Vitória, Presente meu


  Depois de passados 26 anos de você, aninhado em teu seio, percebi que sim, te amo. Mas existem outras tantas de você, outras tantas das quais me privei, em princípio , por seu amor.
  
  Existem muitas outras iguais a você. Decerto não com suas marcas de idade ou sua estrutura óssea, sua experiência ou o cheiro sujo do seu sexo e senilidade intrínsecos. Mas há muitas por aí, com tanta ou quem sabe mais beleza, curvas e reentrâncias se banhando ao mar e curtindo ao Sol. Todas muito cativantes, mil memórias não vividas de doloridos gozos e outros mistérios os mais variados.

  Só hoje percebo o quanto fui pueril em prender - me a ti, como se os sentimentos forjassem grilhões e não laços, raízes e não ramos. Vendo meus amigos, sei que muitos deles sempre te olharam com desconfiança. Nunca puderam te enxergar como eu, porque afinal nunca te amaram como te amo. Não te conhecem pelos meus olhos. É que amam eles amiúde, promíscuos como os amigos são.
 
  Se hoje beijam mineiros lábios, amanhã já se deixam encantar por catarinenses verdes íris, transladando todo afeto sem jamais direcioná - lo a outro lócus que não seja o externo. Devo admitir aqui que os invejo por isso. E admito também que é hora de mudar, pois se de algo realmente sou carente é de me alijar. É duro, sei, mas devo  me emancipar. Ouço alguém cantar que "é necessária a nova abolição" e faço coro. 

  Parto doído sabendo que no entanto sempre terei em teu riso de mulher meu Porto Seguro, minha rosa dos ventos a nortear os passos meus. E onde quer que ande, aonde quer que eu vá, será sempre a você que sentirei na pele, sempre o teu cheiro que estarei sorvendo indiferente do jardim. Mas hei de provar outras delícias e descobrir novas geografias. Sei que ao voltar te encontrarei a minha espera, c'os braços abertos e o hálito frio que tão gostoso me arrepia a pele. É que me chega a hora de sentir na língua outro mel e outro leite. Mas sigo sempre seu

         
                                                      Amante

Um comentário:

Dai disse...

Vitória,e seus milhões de significados...