"E o dos sentimentos os alimentam"
As vezes,
fechando meus olhos, não creio que possa de novo abri – los. Não vejo senão
escuridão, quando c`olhar voltado pra dentro. Tornei – me incapaz de enxergar
sem holofotes, inepto que estou em conceber imagens. E a culpa, mais uma vez,
não é minha. Meu mundo me faz como sou.
Não detenho
de meios de criar metáforas; meu peito é improdutivo latifúndio de qualquer
abstração possível e imaginável A culpa, desconfio com a exatidão clínica dum
Descartes, é do mundo lá fora. 97% de certeza – pois que uma certeza absoluta
seria por demais arrogante.
* * *
Noite
densa. Nit, essa matéria primordial e escura, medo quase palpável. Cerva viva a
limitar nossos ancestrais mais primevos, ainda é memória fresca, aviso claro às
crianças que enxergam naquilo que não podem ver motivo de desespero. Dor pré-concebida, onde só a dor se pode gerar. Lar de toda obscuridade, fé naquilo que se sabe perdido. Carecem dum auxílio que lhes venha num facho de luz qualquer.
Assim sendo, o
sentido da visão acabou sendo ao homem sábio tal e qual uma muleta a nos enfraquecer os
demais. O homem urbanóide não encontra mais uso ao olfato, paladar, ou, mais grave, tato.Enxerga apenas e crê cego no que vê, passivo a ponto de não saber
olhar, quando de olhos fechados.Se não lhes vem prontas, montadas, as imagens
não lhes brotam de lugar algum. Inverbalizado, não sai de dentro. Não pode
colher o imaginário mágico contido na palavra, meio, fim e definição em si mesma.
Mas são felizes e cantam e dançam, sábios e tolos indistintamente, e de suas cavernas (embora já longe da pré – história) não adivinham haver qualquer dano. Não que de fato haja. Assim vivem prenhes do que é raso, razoavelmente todos iguais. Como se pudessem de fato se – lo.
Os que
vivemos resguardados no calor das luzes artificiais, perdemos com o tempo a
noção de quão escura e solene é a aterradora beleza da noite. E o quão pequenos somos ante nossas própria impotência e ignorância.
"O sentimento é abstrato, substrato da palavra. A palavra, concreto armado. Matéria prima de toda poesia."
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