Seu Inquieto senta na cadeira de plástico, puxa um cigarro de trás da orelha e começa a escrever no seu velho e imundo caderninho:
- Hoje não falarei de amores que sinto ou invento, amores de qualquer tipo. Vejamos... (Pensando)
Talvez da fé que inunda meus irmãos, que os cega e a mim me reserva certa um cantinho quente e sujo no inferno da rotina? Não, melhor talvez do sistema podre de lucro e egoísmo que esmaga os sonhos e engana os pobres, fazendo crer que tudo que juntem hoje através de suor e sangue os fará melhores no amanhã tardio ainda que infalível?
Faz sinal ao rapaz que lhe traz a cerveja mais gelada do freezer, suco sagrado que instiga a crítica e afaga as sinapses. Toma do copo, bebe.
- Aaahh! Pois que seja mesmo de samba e amor, de como vai longe o tempo em que mereciam a nossa atenção. Que sirva as novas gerações o alerta de que nós os jovens de outrora é que sabíamos ritmar, ter cadência e a carência que é hoje esse mundo apressado e mesquinho das ruas cheias de gente vazia e de um povo que vive máquina, bicho estranho q é o homem. É isso! Hoje falarei da sociedade das imagens, tacanhas gravuras que passivas não percebem o que passa porque pré ocupados com o próprio preconceito de já não mais se entender criadores, não mais serem semelhantes mas massa só, tudo igual, pareado com o que - mas nesse momento eis que passa em desfile a morena.
As coxas grossas, o seio farto, e um sorriso espelhado no autor que dá a ele a certeza de que hoje não é dia de nada daquilo. Descanse, caneta! Sossegue, aflição. Que falta faz mais um dia? Que diferença mais letras?
A morena vai linda e a cevada gelada. Todo o resto hoje pode esperar.
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