quarta-feira, 27 de fevereiro de 2013

Colcha de retratos



    Porque mais alguns passaram sem parecer que eram 30. E outro mais se acabou sem quem dissesse "faltam ainda mais 10"  e o passado, encarado aqui de onde estamos, cheira estranho e alheio - como não fossem seus o mel e o fel.  Como se a outrem tocasse.

   A gravidade te prende ao chão. Ah! como era bom ignora - la! Mas nada que se conheça, uma vez guardado, se pode arrancar do esquema ao qual pertence: seu lugar na malha das parcas. Então guardo seus beijos mais molhados. Dobro os gemidos mais suados, o palpitar mais suave, seguido de inesperado espirro. Ponho tudo numa caixa que, um dia talvez lhe envie. Tenho o cuidado de não vincar o tecido que cosemos com unhas e dentes e pêlos.

   Os louros ainda esperam, sem saber que já ninguém lhes há de colher no encantado descuido de um bucólico pastor de ovelhas. Não há mais  espaço para romantismos, você sabe. Ao longe uma pequena ninfa sopra em desafino desgastada flauta. Belas odes já lhe acompanharam; dela, lindas melodias já brotaram, doces como o quê. Ou quase.


   Mas as notas agora só vem mesmo do burocrático relógio pregado na parede da cozinha. Conforme os tics convertem - se em  tacs, mais apáticos ficam os homens. Menos viçosas as mulheres, as coisas. Bem, as suas miudezas ficarão na caixa, já que não sei aonde ou como endereça - la. E servirá de apoio a despojadas vestes, em noites suadas e afoitas, embalagens de presente a se espalhar pelo chão do quarto.

Esse não é um poema de amor. Essa não é uma data especial. Esse não é senão o m'Eu lírico. E isso é a verdade, somente a verdade, nada a mais que a verdade.



Pode rir agora

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