quinta-feira, 20 de outubro de 2011

Rabuja



Aguardava a minha usual condução passar, rumo ao meu trabalho, quando esbarrei em uma senhora que me execrou por tal feito. Percebi que haviam mais outras duas com ela; eram avó, mãe e filha. As três pareciam ter a mesma idade. Todas rancorosas, manquitolantes e cheirando a roupa de muito tempo guardada no armário.
Lembrei que essas senhoras são famigeradas aqui pelas redondezas onde resido: são mulheres que não falam com ninguém, além delas próprias. E quando a necessidade de dialogar com outro é inevitável, são totalmente rijas e sarcásticas. Além disso, não se sabe mais nada sobre ímpares criaturas.
Odientas pelo acaso, pelo ventre? Não sei! Mas senti um certo calafrio ao me ver, numa consequência, como tais.

Ora, o que há de errado em ser rabugento? É sarna que já não me sai. É parte do meu todo. Sou eu, travestido da ironia da vida.
Será que este é o meu tal fado que tanto minha mãe dizia? Meu filho, assim, deste jeito, vais terminar com ninguém, a não ser que encontres uma pessoa tão ríspida quanto, que te entenda!
Será um mecanismo de defesa que virou a máquina inteira?
Assemelha-se mal humor à tristeza, mas o sarcasmo discorda.
E é tão bom atropelar, as pessoas, neste trem descarrilado, para o que nos cerca. Pois nada é tão verde assim!
Reclama-se por haver de se reclamar!

É prazenteiro ver os filmes do Woody Allen, e os seus personagens - onde a maioria das vezes ele próprio atua - tão reclamantes de tudo, com tiradas geniais a qualquer sentença alheia, sobejando ironia. É boníssimo se reconhecer alí, dar gargalhadas por entender a piada e um sorriso de canto de boca, de alívio, por não se sentir só, nessa grande e única tribo sem acordo, que lê-se: humanidade (ha!).

Minhas opiniões não possuem escudos. Vão de peito aberto, na direção do golpe do ocaso que quer se entender alvorada.
É tudo preto e branco - pessimista? Não, realista! Misantropo? Talvez! - sem o verde, sem o cinza, sem o azul. Mãos coladas no corpo e a velha convicção do carnaval, onde a alegoria quer dizer o que estampa mesmo.
Ainda sou jovem, mas será este, o beijo do destino para quem já deixou de sonhar, minhas três ranzinzas senhoras?
Será?

Um comentário:

Uriel Juliatti disse...

Ahhh misantropia... Dêem flores aos autistas pela linda façanha do silêncio (patológico, mas útil)