domingo, 20 de maio de 2012

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Que belas flores me trazes! Desfolho uma a uma e me fica entre os dedos o úmido cheiro a morte que é   das flores tão natural. Debaixo da unha, a seiva, o sangue que delas brota. Sinto arder cada uma, como milhares de espinhos pinçando e rasgando desde estas veias tão verdes.

Ai! Quanta doçura em sinais tão despretenciosamente mórbidos, ai! Num canto do quarto esconde - se entre alvas cortinas o cântaro que sou , de onde brotam essas tais negras rosas, escuras como seus cabelos e densas como a noite só. Angustiantemente mina de minhas horas ultimamente a poesia, me secando os potes de mágoas e cancros.

O som crepitante dessa fabulosa flora se dissemina de tal maneira que a tudo abraça em sua velada sinfonia:  Não ouço sequer meu mais sentido suspiro. Observo cioso meu estrelado jardim, mansidão vegtal que sinto  pois sim, ainda me há de fazer um com o cosmos.


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